quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Por que não participei da marcha contra a corrupção II

Que a marcha contra a corrupção é praticamente inútil e despolitizada muitos já devem saber, e eu tentei ajudar com a postagem abaixo. O que me motiva a fazer esse post é apenas complementar o outro com dados mais sólidos, para escancarar a ingenuidade de quem ainda acha que a corrupção é o principal problema do país enquanto temos uma crise econômica internacional batendo à nossa porta. Além disso, reforçar algumas questões e sugerir outros textos nunca é demais.

A respeito das marchas contra a corrupção, o que era uma intuição (ou seria uma obviedade?), se confirmou: não existem demandas concretas, as manifestações, via de regra, são elitistas e o discurso consiste num senso comum apoiado no imaginário moralista inflado pela mídia corporativa.

O Eduardo Guimarães mostra isso de um modo bem simples e claro: entrevistando os manifestantes paulistas dessa marcha (que teve em SP justamente o maior público). Os entrevistados consideravam o país melhor a dez anos atrás, alguns sentem falta da ditadura, outros acham que urge o impeachment da Dilma - versões da clássica "a culpa é do Lula". Como tentei expôr na postagem anterior, são necessários mecanismos alucinatórios ou simplesmente muita cara de pau para imaginar que o país era melhor - sob qualquer aspecto - há dez anos, inclusive em termos de corrupção.

Ao contrário do que tentam fazer Veja, Globo e cia, não vamos aqui tentar quantificar os recursos desviados por corupção apoiados em índices completamente subjetivos, como bem aponta Marcus Coimbra, na sua coluna da Carta Capital. O que podemos fazer é buscar indícios concretos de que a corrupção melhorou ou piorou, sem se apoiar na impressão gerada pelo poder de agenciamento midiático. E bom, nesse sentido, temos boas notícias: o número de prefeitos cassados vêm aumentando a cada eleição, (em 2002, dos 5.562 prefeitos eleitos, 72 foram cassados. Em 2008, esse número subiu para 179 - mais que o dobro), além do notório caso de José Roberto Arruda, ex-governador do DF pelo DEM, que foi o primeiro governador preso após a redemocratização. Além disso, em 2009, o TSE cassou o mandato de três outros governadores: Marcelo Miranda (PMDB-TO), Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), filho de Ronaldo Cunha Lima, e Jackson Lago (PDT-MA). Mais um número recorde para o país.

Tais números evidenciam um inegável fortalecimento institucional, contrariando o senso comum de que "tudo dá em pizza" ou que a situação está pior que antes. Não, não quero dizer que a corrupção não é um problema grave no Brasil, mas sim destroçar o moralismo e as alucinações que culpam o Lula por "tudo isso que ta aí". Mais um número: o TSE liberou o "ranking dos partidos corruptos", onde contabiliza os partidos com mais políticos cassados por corrupção: na liderança o DEM, com 69 políticos, em segundo o PMDB, com 66, e em terceiro o PSDB, com 58. O PT, teoricamente o culpado de tudo, aparece em nono, com 10 cassados.

Então vamos ao que fica evidente: não há indícios de que a corrupção tenha aumentado, enquanto há fortes indicadores de fortalecimento institucional. As Marchas contra a Corrupção tem um viés moralista, que buscam reduzir problemas estruturais a questões morais, de preferência apontando a "Era Lula" como o princípio - ou a explosão - da corrupção. Os principais partidos que hoje se vestem como bastião da ética lideram os ranking de partidos corruptos, evidenciando não apenas a moralidade seletiva de seus políticos, mas também de veículos como Veja, Folha de SP, Estadão e Globo, que fomentam o imaginário antipetista e a ideia de que o pragmatismo lulista é a origem de todo mal.

Para finalizar, acho bom ressaltar que a corrupção é um problema grande, sim, mas que não deve ser tratado pela ótica moralista ou partidária, mas sim compreendida em suas raízes socilógicas. No entanto, deixo uma sugestão de texto que não poderia ser mais preciso e elucidativo. Nele, o autor, Francisco Fonseca, desmistifica brevemente as "raízes" da corrupção comumente apontadas pela mídia e seus ventrículos para em seguida expor concisamente a questão fudamental: a corrupção nada mais é que a lógica privatizante do Estado, da coisa pública, e não há saída a curto prazo mais eficiente e urgente que o financiamento 100% público de campanhas - proposta que dá calafrios nos principais colunistas dos grandes veículos, e quem dirá na bancada empresarial, na bancada ruralista, etc. Caro leitor, te faz um favor e lê esse texto: A corrupção como fenômeno político.

Um comentário:

  1. Mas sair de onde estamos para debater questões estruturais não é um salto muito grande? A população brasileira está preparada para esse debate? Que tipo de manifestação te faria ir para a rua e protestar? A mobilização deste pessoal, ainda que sem um norte bem definido, não tem algum mérito por pelo menos "tentear"? Única e exclusivamente melhorando a qualidade do nosso voto, veremos um país melhor?

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