quarta-feira, 15 de junho de 2011

O Movimento 89 de Junho e o DCE da PUCRS

É, tá dando o que falar esse DCE da PUCRS. Finalmente. Depois de 20 anos de fraudes e monopólio no Diretório (não) representativo dos estudantes, é de se esperar que as enxurradas árabe-europeias de manifestações respingassem aqui. Comparação forçada? Creio que não. A questão principal é a representatividade posta em xeque, ou melhor, a constatação de que as instituições "democráticas" estão totalmente débeis, e não mais se justificam. Estão caducas, seja na Europa, pelos tentáculos do capitalismo financeiro, seja na PUCRS, pelos tentáculos do PDT. No entanto, as semelhanças não param por aí.

Se o fato principal - estudantes se levantando contra fraudes e falta de democracia na sua universidade - é digno de entusiasmo, a ladainha que envolve o caso é extremamente frustrante. Frustrante porque, se o Movimento 89 de Junho mostra que o espírito crítico sobrevive, as opiniões veiculadas na mídia mostram que o conformismo e a estupidez do senso-comum formam maioria avassaladora.

A primeira questão a respeito do caso, que o Conversas Cruzadas fez o desfavor de levantar, é: a luta no DCE se deve a questões educacionais ou partidárias? Ora, trata-se novamente do engodo que diz que educação é uma coisa e política é outra. Se a intenção era afirmar (ou questionar) que questões partidárias não devem afetar as decisões do DCE, estamos de acordo. No entanto, a verdadeira problemática que a questão traz é a que mais desanima os sempre desanimados: a luta do DCE envolve "dois lados", cada um representando um partido. Isso é falso.

Em primeiro lugar, DCE e Universidade são, sim, espaços para fazer política. Mais que isso, é impossível não fazer política neles. O próprio não-fazer política neles seria fazer política. Ora, lutar por um Restaurante Universitário com preços justos, lutar contra um aumento de mensalidade abusivo, lutar por um currículo que represente melhor os anseios dos estudantes, lutar por uma representatividade honesta nos congressos estudantis, isso tudo é o que? Fazer tricô? Não. Fazer Política. E não lutar por nada disso também é fazer política, mas a política com "p" minúsculo, a política da omissão.

Se o problema é o envolvimento de manifestantes com partidos políticos, o que fazer? Exigir que quem se envolve com política fora da universidade não se envolva dentro? E o contrário também? Não é preciso argumentar para mostrar o absurdo dessa questão. Se filiados ao Psol, ao PT, ou a qualquer outro partido são os que começaram e coordenaram as manifestações, isso é motivo de orgulho para eles, e deveria ser de vergonha para os orgulhosos apartidários que nunca fizeram nada que não fosse xingar mto no twitter. Porque temer as ligações partidárias? Não se deve condená-las, mas sim controlá-las, para que não se repita o que a juventude "trabalhista" vem fazendo há 20 anos. E, até onde eu sei, todo o movimento cobra exatamente isso: mais transparência, mais democracia, mais representatividade. Por que temer a bandeira de um partido e não se juntar a ele se as exigências são as mesmas? Por que não lutar pela agenda mínima de "democracia já"?

Reduzir um problema político a uma questão de "dois lados" é estupidez, pois esconde os verdadeiros problemas - fraude, corrupção, representatividade, democracia. Essa visão funciona como um incentivo à omissão, e é isso que constatamos na PUCRS. Dos mais de 20 mil alunos, são menos de mil que estão se mobilizando. E certamente a maioria enxerga a questão toda como "uma luta entre partidos pelo poder". Se essa é uma questão realmente presente nas lutas pelos diretórios Brasil afora, essa não é a questão - por ora - na PUCRS. O que o senso-comum afirma nesse caso é que há dois lados na questão: dois partidos políticos. Como no Brasil, hoje, política e partido são sinônimos de podridão e podridão, coloca-se os "dois lados" em uma balança hipotética e constata-se a igualdade. E a partir daí, só resta o imobilismo. E a quem interessa o imobilismo? Não é preciso responder. E é impossível não reparar que os primeiros a condenar o Movimento 89 de Junho o fazem pela "desilusão com a política", ou por acharem que "é briga de partidos". E o que oferecem em troca? Imobilismo!



Ora, tomar lado não é acatar ordens. Engana-se quem acha que os adolescente que trancaram a Av. Ipiranga estavam lá para fazer baderna, ou como massa de manobra. Estavam lá pois estão descontentes, assim como estavam os egípcios, os tunisianos, os espanhóis e todos outros. Além disso, os primeiros a condenar a "baderna" são também os primeiros a dizer que "o brasileiro é idiota, o brasileiro perdeu a capacidade de se indignar, etc". Em vez de julgar o movimento e taxá-lo de massa de manobra de partidos, deveríamos antes nos entusiasmar com a materialidade de sua luta, com sua presença na rua, com o grito em seus pulmões, com a indignação em seus espíritos.

A ocupação da Ipiranga ilustra exatamente isso: não são alienados, não são massa de manobra, não estão ali por que querem fazer baderna. Duvida? Pergunte a qualquer um deles. Eles sabem o que os colocou ali, eles sabem que política se faz na rua, e eles sabem que o DCE e a ouvidoria da PUCRS estão cagando e andando para seus anseios. Sabem isso tanto quanto sabem que, se continuarem contando apenas com os "canais institucionais" para desaguar sua ira e frustração, continuarão falando sozinhos, isolados uns dos outros. Eles fizeram sua escolha: se uniram, ocuparam, resistiram e lutaram. Lutam. Na rua. Na praça. Sabem que "a praça é do povo como o céu é do condor", que a rua é do povo, e não do automóvel. Sabem chamar a atenção para uma causa mais do que legítima. E quem há de discordar?

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